Téo Azevedo
Grito Selvagem (1974)
O groove-calango de Téo azevedo! Mais uma raridade, exclusividade musicalango.
Mineiro, filho de Seu Tiófo, conhecido como o "lendário violeiro de um braço só", que ficou eternizado no poema de Carlos Drummond de Andrade (Viola de bolso). Téo é o legado de seu pai, e mais ainda. Uma obra construída com uma história de vida rica. Foi cantor, compositor, violeiro, repentista, escritor, poeta, folclorista, radialista.
Dividido entre as origens e a nova vida nos centros urbanos RIO-SP, Téo constrói este que é um LP temático, de um caboclo encantado com a cidade grande. Este é o seu primeiro trabalho, uma raridade em que só nele você vê esse flerte com guitarras rock, jovem guarda, e o seu estilo e cabelo black power.
Das 10 incríveis faixas, apenas "Mané João" não é de autoria. É uma releitura da música de Roberto e Erasmo Carlos, que ficou irada.
O disco começa com "Eu tentei", um rock-samba sobre o amor não correspondido. Segue com "Cego Aderaldo", que traz guitarras mais marcantes, tem também um som do regional (sanfona?) que não deixa por menos e faz um solo pra completar o groove. Assacumpero é um groove-calango que foca na sonoridade das palavras. "O novo de hoje já é velho" parece mesmo um martelo-galope, como ele mesmo cita na letra, com uma levada mais calma e compassada. Ele aplica as mesmas influências na releitura de "Mané João", aproveitando da deixa bem-humorada que a música e o ritmo permitem. "O eco do grito" é justamente a idéia transformada desse grito selvagem, a concepção sob a influência mais recente de Téo no Rio de Janeiro.
"Vá pentear macaco", que eu não gosto de puxa-saco! Esta faixa traz um groove com vocais certeiros, e uma guitarra que duela e acompanha pra criar um clima de sacolejo e descontração. "Calangueando*" traz alguns ritmos e instrumentos do samba. É um disse-me-disse em que Téo usa de crenças pra mentir ou desmentir alguns ditos, trazendo também uma atmosfera bem-humorada que transporta sua consciência para um baile típico da cidadezinha, no melhor da festa, quando todo mundo canta.
Confira: Só o Musicalango toca.
Direção musical, arranjos e piano ficaram por conta do maestro Daniel Salinas. O time conta com Willy (baixo), Morival (bateria), Edson (Violão), Antenor (Guitarra e violão 12 cordas). Conta ainda com o apoio do Grupo Acauã (ritmo), Mares do sul (vocal), e a participação de Charles & Ralf.
*Aqui na minha terra, calango é o apelido dado a um lagarto, lagartixa, etc. De fato, deriva do ambundo (ri)kalanga, que significa lagartixa. Mas em Minas, calango é um ritmo da cultura popular. O nome sugere imitação do passo do calango, arrastando o pé. Ou talvez, o ritmo derive do Kimbundo Kalanga (prevenção), pois como é uma batalha de cantadores, o calangueiro tem que estar prevenido. É um equivalente rural para o repente nordestino ou o partido alto carioca.
Tem uma levada gostosa, 2/4, que muito pouco lembra o calango tradicional. O calango mineiro ocorre em GO, MG, ES, MG, RJ, SP e outros estados do Brasil. É cantado em compasso binário, com estrofes de quatro versos (quadras), ou seis (sextilhas) etc. Fonte: Biblioteca de ritmos; Dicionário MPB.
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